Toda a vida fui uma mudinha.
Uma plantinha pequena, com pequenas folhinhas despontando de seu frágil caule, pequenas raízes se fincando na terra abaixo de mim.
Pequena.
Enquanto ainda era pequena não notava, mas uma caixa me aprisionava.
Caixa essa cheia de limitações, não podia receber a luz do sol em minha folhagem nem a água que caia para me regar.
A caixa me impedia de crescer.
Mas ahhh que plantinha teimosa que sou, odiei a caixa desde antes mesmo de me sentir grande demais para nela caber. Odiei-a!
Me vi logo crescendo e procurando buracos para poder sentir a luz do sol e molhar-me com a chuva, e crescer além dos limites a mim impostos!
Cheguei a ver outras plantinhas dentro de suas caixas também, algumas conformadas e pequenas dentro de suas caixas minúsculas, sem luz, sem água. Sabiam elas da existência de um mundo tão bonito além das paredes?
Porém haviam outras, maiores e mais fortes do que eu, que haviam crescido tanto que rasgaram as paredes de suas pequenas caixinhas, a ponto de faze-las se tornarem coisinhas ignóbeis diante de tal grandeza.
Senti inveja, senti vontade de ser assim!
Mas logo a caixinha me tomava novamente. Ainda era muito pequena, haviam tantas coisas a esperar.
Desde então sonho, sonho em ser a planta enorme e sonho com o dia em que irei rasgar as paredes de minha caixa. Sei que esse dia não tardará.
Afinal, nem uma caixa feita de titânio ou concreto poderia segurar os sonhos.
Sonhos de uma mudinha rebelde.
Tal qual eu sempre fui.